No dia 13 de novembro de 2024, uma audiência pública da Comissão Permanente Mista de Combate à Violência contra a Mulher trouxe à tona discussões significativas sobre a interseção entre futebol e a violência de gênero. A pesquisadora Isabella Matosinhos, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, apresentou dados alarmantes que revelam um aumento substancial das agressões físicas contra mulheres em dias de jogos de futebol. Tais agressões aumentam cerca de 21%, enquanto as ameaças registram uma elevação de aproximadamente 24%.
Durante esta audiência, Matosinhos destacou que, embora os dados tragam à luz uma correlação preocupante, não se pode afirmar que o futebol seja a origem da violência contra as mulheres. A violência de gênero, segundo ela, é um fenômeno multicausal entrelaçado com valores patriarcais e a perpetuação da desigualdade de poder entre os sexos. O futebol, portanto, pode intensificar esse contexto ao evocar certos estereótipos de masculinidade que, por sua vez, legitimam comportamentos violentos.
Por outro lado, Daniela Grelin, diretora-executiva do Instituto Avon, advoga que a popularidade do futebol pode ser mobilizada para fins educativos e de conscientização. De acordo com Grelin, 81% dos brasileiros demonstram interesse significativo no esporte, e 40% se identificam como super fãs. Esse engajamento sugere que campanhas nos estádios podem ser eficientes em educar o público e fomentar uma mudança cultural que repudia a violência.
Lucimara Rosana Cardozo, coordenadora-geral de Cultura do Ministério das Mulheres, adicionou que já existem esforços em campo para mitigar a violência de gênero nos estádios, como a campanha Feminicídio Zero. Iniciativas incluem a exibição de faixas e vídeos durante jogos, além da promoção do Disque Denúncia 180. Contudo, ela salientou a necessidade de implementar mais espaços de acolhimento para vítimas de agressão nesses locais, uma vez que nem todos os estádios ou clubes disponibilizam tais recursos.
O projeto de lei em discussão (PL 4842/23), originado no Senado, propõe aumentar a visibilidade de campanhas de conscientização em eventos esportivos com público superior a 10 mil pessoas. Este pleito ressalta a urgência de ações educativas que levam em consideração análises interseccionais de raça e classe, destacadas por Matosinhos, que afirma que quase 70% das vítimas de violência em 2023 eram mulheres negras, predominantemente de baixa renda. Para enfrentar efetivamente essa questão, é imperativo que os esforços de conscientização integrem essa complexidade social.
Com informações e fotos da Câmara dos Deputados