Em uma audiência pública realizada pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional na Câmara dos Deputados nesta terça-feira, 29 de outubro de 2024, o ex-embaixador Celso Amorim, atualmente assessor especial da Presidência da República, expressou que o processo eleitoral venezuelano deve ser tratado como um assunto interno do próprio país. Amorim destacou a importância do diálogo e da autodeterminação do povo venezuelano na busca por uma solução para suas questões políticas, sem interferências externas. Ele mencionou que o Brasil acompanha de perto o desenvolvimento da situação na Venezuela devido à significativa extensão da fronteira compartilhada, de 2.000 km, o que impõe desafios comuns, como o combate à criminalidade internacional, a proteção de comunidades indígenas e a preservação da Floresta Amazônica.
Ao ser questionado sobre as relações entre os dois países, Amorim revelou que o presidente Luiz Inácio da Silva não mantém contatos diretos com o presidente venezuelano Nicolás Maduro, citando a falta de “sinais de abertura para um diálogo franco” por parte do governo venezuelano. Além disso, o assessor abordou a ineficácia das sanções internacionais impostas à Venezuela, defendendo que estas medidas acabam prejudicando a população ao invés de promover mudanças políticas significativas no país.
O debate na comissão também foi marcado por momentos de tensão. O deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP) expressou preocupações sobre possíveis “alinhamentos ideológicos” da diplomacia brasileira que, segundo ele, poderiam levar a um isolamento internacional do Brasil. Em resposta, Amorim rejeitou a polarização em categorias simplistas de regimes democráticos ou ditatoriais, destacando que a postura do Brasil, ao não apoiar a autodeclarada vitória de Maduro, reflete um “mal-estar nas relações” bilaterais.
Outro ponto de discussão foi a questão financeira entre Brasil e Venezuela. O deputado Lucas Redecker (PSDB-RS) levantou a questão da dívida venezuelana com o Brasil, alegada inicialmente em US$ 5 bilhões. Amorim, por sua vez, corrigiu o valor para US$ 1,28 bilhão em parcelas não pagas e US$ 400 milhões em juros, conforme dados do Ministério da Fazenda. O ex-chanceler frisou que a retomada do diálogo com a Venezuela tem como objetivo discutir a regularização desses pagamentos e a continuidade das relações comerciais. Amorim ainda informou que uma mesa de negociações bilaterais foi estabelecida em julho para abordar essas questões financeiras, evidenciando o esforço do Brasil em manter conversações produtivas com o país vizinho.
Com informações e fotos da Câmara dos Deputados