Em um evento promovido na Câmara dos Deputados, dentro do contexto do Outubro Rosa, especialistas trouxeram à tona uma preocupação crítica para a saúde pública: o atraso no diagnóstico dos cânceres de mama e de colo de útero no Brasil, que emerge como um grande obstáculo na luta contra essas doenças. Durante o seminário, diversos profissionais de saúde e envolvidos na área destacaram que há um intervalo preocupante de até seis meses entre o momento em que há suspeita da doença e o início efetivo do tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS).
A oncologista Susana Ramalho, representante do Hospital da Mulher da Universidade de Campinas (Unicamp), sublinhou que este atraso pode ser fatal, especialmente para pacientes com tipos agressivos de câncer. “Ao ingressarem em um serviço estruturado, as pacientes começam o tratamento entre 30 e 60 dias. Contudo, até alcançarem esse ponto no SUS, podem se passar 180 dias”, explicou Ramalho. Ela frisou que tais atrasos são especialmente danosos para mulheres negras com subtipos agressivos de câncer, potencialmente tornando a doença incurável.
As estatísticas apresentadas durante o evento foram alarmantes. O câncer de mama, por si só, já é a principal causa de morte entre mulheres no Brasil. O deputado Weliton Prado, líder da comissão especial de Combate ao Câncer no Brasil, destacou que uma mulher morre a cada 30 minutos vítima dessa doença. São mais de 18 mil mortes anuais que poderiam, em grande parte, ser prevenidas com diagnósticos precoces, que permitem a cura em até 95% dos casos.
Além do câncer de mama, o câncer de colo de útero foi bastante discutido. Conforme esclarecido pela médica Gabriela Moreira, essa doença mortal, que faz uma vítima a cada 25 minutos, é a segunda principal causa de morte por tumores malignos no país. Entretanto, ao contrário de muitos outros, este tipo de câncer é completamente prevenível e, potencialmente, erradicável. A maioria dos casos tem origem no vírus HPV, para o qual existe vacina disponível gratuitamente no SUS. As lesões precoces, se detectadas, são tratáveis.
Joana Jeker, líder da Associação de Mulheres Mastectomizadas de Brasília, destacou a necessidade urgente de reformularmos a abordagem diagnóstica. Ela propôs o estabelecimento de centros especializados, onde todo o processo de exame e diagnóstico pode ser concluído em um único dia, minimizando atrasos críticos. De acordo com ela, muitos centros já possuem a infraestrutura necessária, mas precisam de uma organização mais eficaz e de vontade política para colocá-la em prática.
Em relação à prevenção, a oncologista Daniela Laperche defendeu a importância dos exames genéticos para detectar predisposições ao câncer de mama e ovário, argumentando que tal medida poderia economizar recursos públicos, já que a medicina preventiva é menos custosa do que o tratamento de doenças avançadas. Laperche advertiu sobre o aumento significativo previsto nos gastos do SUS com oncologia, podendo chegar a 8 bilhões de reais até 2040. Intervenções preventivas, como a remoção cirúrgica de tecidos em risco ou tratamentos medicamentosos, são algumas das soluções vislumbradas.
Finalmente, o oncologista Romualdo Barroso fez um apelo pela incorporação, no SUS, de medicamentos avançados, como inibidores de ciclina e trastuzumabe entansina, que são cruciais para o tratamento de casos avançados de câncer, onde a cura já não é uma opção viável. O seminário, uma iniciativa da Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados junto à Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, reforça os esforços do Outubro Rosa para intensificar a consciência pública sobre a importância da prevenção e tratamento do câncer de mama.
Com informações e fotos da Câmara dos Deputados












