Realizado na terça-feira (3) na Câmara dos Deputados, o Fórum Prevenção da Cegueira e Reabilitação Visual na Infância destacou a urgente necessidade de diagnóstico precoce de problemas oftalmológicos em crianças e a importância do acesso aos tratamentos disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O evento foi organizado a pedido da Frente Parlamentar Mista da Saúde, sob coordenação do deputado Dr. Zacharias Calil (União-GO), e reuniu especialistas de renome para discutir soluções para os desafios enfrentados no setor.
Um dos destaques do painel foi a fala de Marcos Ávila, presidente do Congresso Brasileiro de Oftalmologia, que apresentou dados preocupantes sobre a demora no acesso a tratamentos para retinopatia diabética no estado de São Paulo. Segundo ele, o tempo de espera pode variar de 206 a 1.499 dias, situação que ele classificou como inaceitável. “O paciente não pode esperar isso tudo”, enfatizou Ávila, lembrando que a retinopatia diabética é a terceira maior causa de cegueira, atrás apenas da catarata e do glaucoma.
Wilma Lelis Barboza, presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, reforçou essa preocupação ao explicar que, embora a retinopatia diabética, catarata e glaucoma não tenham cura, elas podem ser controladas com tratamento adequado. No entanto, dados apresentados por Ávila revelam uma baixa cobertura de tratamento, com apenas 17% dos pacientes sendo tratados e um ínfimo 2,89% recebendo o protocolo ideal de cuidados. “Temos cerca de 7,1 milhões de pacientes com retinopatia diabética no Brasil, dos quais 1,6 milhão estão em alto risco. Precisamos remodelar a assistência do SUS, ampliando a oferta de tratamentos e revisando políticas de saúde”, afirmou Ávila.
A situação é igualmente crítica no caso do glaucoma. Wilma Barboza alertou que, na região Sul do Brasil, a taxa de prevalência da doença é 3,4%, afetando mais de 7 milhões de brasileiros. No entanto, menos de um milhão está em tratamento contínuo. “Os números indicam uma discrepância alarmante entre a prevalência da doença e o número de pacientes atendidos”, calculou Barboza.
O problema se agrava ainda mais quando se trata de crianças. Celia Nakanami, coordenadora da comissão de oftalmologia social do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, sublinhou a importância do diagnóstico precoce em idade infantil, destacando os impactos negativos que problemas de visão podem ter no desenvolvimento das crianças. Segundo Nakanami, deficiências visuais podem causar atraso no desenvolvimento infantil, dificultando a fala, o andar, e a interação social. “No Brasil, estimamos que existam 27 mil crianças cegas e 54 mil com baixa visão, mas menos de 5% delas têm acesso a serviços de reabilitação visual”, alertou a médica.
Os principais problemas oftalmológicos em crianças incluem erros refrativos, como miopia e hipermetropia, além de catarata e glaucoma. Os especialistas concordam que medidas urgentes são necessárias para garantir diagnóstico precoce e tratamento adequado, a fim de mitigar os danos e promover melhor qualidade de vida para os afetados.
Esses dados e depoimentos revelam a urgente necessidade de aprimorar políticas públicas no campo da oftalmologia no Brasil, garantindo não apenas a detecção precoce das doenças, mas também o acesso ao tratamento eficaz, especialmente para as crianças. Entraves no sistema de saúde e a falta de uma política abrangente de reabilitação visual foram apontados como os principais desafios a serem superados para reverter esse quadro alarmante.
Com informações e fotos da Câmara dos Deputados